No vasto parque nacional angolano, os guardas florestais desempenham muitos papéis

7 de February de 2020

 

Estrada de terra compacta no Parque Nacional Quicama.

 

Manuel Sebastião Afonso tem muito do que cuidar: quase 1 milhão de hectares (3 milhões de acres), para ser exacto.

Como Administrador do Parque Nacional da Quiçama, um território extenso perto de Luanda, capital de Angola,  ele é o responsável por proteger a vida selvagem, que inclui elefantes, girafas, zebras, impalas, e outros animais que atraem cada vez mais visitantes, à medida que o país procura desenvolver o sector de ecoturismo.

Ao mesmo tempo, ele é o principal ponto de contacto de cerca de 25.000 pessoas que vivem em cinco aldeias dentro da Área Protegida, que antigamente era uma reserva de caça. Afonso e a sua equipa de 29 inspectores trabalham em estreita colaboração com as comunidades, enquanto atravessam o parque de camião e barco, monitorando a caça ilegal e a destruição da floresta e dando as boas-vindas a um número crescente de frequentadores de safáris.

É um trabalho duro: até recentemente, os guardas dormiam no chão de cabanas de metal e sem água corrente. Passam os dias a trabalhar para reparar cercas, cavar poços, apagar incêndios e construir plataformas de observação para futuros visitantes.

Um projecto de Áreas Protegidas administrado pelo Ministério do Ambiente de Angola, com o apoio do Fundo Global para o Ambiente (GEF) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), permitiu às autoridades do Parque construir estações de patrulha de cimento simples com vasos sanitários e comprar equipamentos, incluindo veículos para os guardas florestais trabalharem num território maior.

 

“Temos espécies em extinção ameaçadas no parque e a melhor maneira de protegê-las é fazendo patrulhas regulares e frequentes”, afirmou Afonso.

 

Ainda assim, apenas 1% da Área Protegida está a ser protegida activamente, faltando muito por fazer.

“É uma área grande e temos poucos funcionários”, disse Afonso, olhando para o horizonte de onde, à distância, é visível a torre do Aeroporto Internacional de Luanda .

A proximidade com a cidade é uma bênção e uma maldição para Quiçama.

Está perto o suficiente para uma viagem de um dia do centro de Luanda, ao longo de uma estrada reabilitada que passa por aldeias de pescadores, minas de sal, hotéis na praia e um campo de golfe. Cerca de 2.000 pessoas visitam o parque por ano, a maioria delas em pequenos passeios de safári organizados por operadores privados.

 

 

 

O fácil acesso ao aeroporto também se torna um benefício para os caçadores furtivos que exportam, ilegalmente, presas de elefantes, escamas de pangolim e animais vivos para venderem no exterior. Dois caçadores foram recentemente presos pela equipa do Afonso, porque tinham um rifle semi-automático, 190 armadilhas e dois facões.

 

As pessoas que vivem no parque também podem ser uma ameaça para a flora e a fauna - principalmente as árvores, que geralmente são cortadas para fazer lenha e carvão, muitos importantes para a iluminação, o aquecimento e para cozinhar, em Angola. Mas o recente engajamento entre as Autoridades nacionais dos Parques de Angola e os residentes locais também ajudou a aumentar a conscientização sobre o valor da biodiversidade e a necessidade de protegê-la.

Em Novembro, um guarda florestal Quiçama foi abordado por um membro da comunidade que tinha travado um caçador furtivo que tentava capturar um pangolim - um dos animais em extinção mais traficados do mundo, cujas escamas são usadas na medicina tradicional e para remédios na Ásia.

O mamífero criticamente ameaçado estava grávida - e Afonso e sua equipa logo tiveram de cuidar de uma mãe e de um bebê recém-nascido, além de cumprirem os restantes deveres. A mãe pangolim inicialmente rejeitou o filhote pangolim, para grande desgosto da equipa. Eles rapidamente reuniram um monte de capim e criaram um refúgio para os animais, observando-os de dia e noite, durante vários dias, antes de liberá-los de volta ao Parque.

"As comunidades ajudam a proteger", disse Afonso, ligando a experiência do pangolim aos esforços contínuos para educar e se envolver com os povos locais ao longo do rio Kwanza. "Tentamos ajudar essas pessoas e mitigar o impacto da proximidade entre os animais e as pessoas."

 

 

A economia de Angola cresceu dez vezes nas últimas duas décadas, após o fim da guerra civil e graças a um boom do petróleo que beneficiou o exportador de energia. Com os preços do petróleo agora mais baixos, o país está a trabalhar para diversificar a sua economia e investir numa indústria de ecoturismo que possa atrair visitantes que poderiam passar as férias na Namíbia ou na Zâmbia.

Através do projecto implementado pelo PNUD, financiado com um montante de 5,8 milhões USD do GEF, o Ministério do Ambiente de Angola está a trabalhar para criar novas Áreas Protegidas em todo o país e reabilitar quatro Parques Nacionais - Quiçama, Bicuar, Cangandala e Maiombe - como bem como a Reserva Natural Estrita de Luando.

"Estamos avançar muito e ainda há muito a ser feito", disse a ministra do Ambiente de Angola, Paula Cristina Francisco Coelho, a representantes de Governos do Sul de África, que visitaram Quiçama para conhecer a experiência de Angola na gestão de áreas protegidas e a sua nova planificação e estratégia de conservação da biodiversidade.

Além do trabalho a ser desenvolvido nas Áreas Protegidas, o GEF está a apoiar várias iniciativas do Governo de Angola para reduzir a degradação das terras, aumentar a resiliência às mudanças climáticas, aumentar o acesso a energia limpa, proteger a biodiversidade e combater o comércio ilegal de animais silvestres. O combate à caça furtiva e ao tráfico é uma das principais prioridades do GEF, que ajuda os países a combater o comércio ilegal de fauna silvestre por meio de projectos individuais e do Programa Global de Fauna Silvestre, em parceria com o Banco Mundial.

Fotografias: Laura MacInnis/GEF

 

Vista para o rio do Parque Nacional Quicama.

 

 

Safari - Quiçama

 

 

Gnu - Quiçama

 

 

Kudu - Quiçama