Jovens empoderados na teoria e na prática para o mercado de trabalho

11 de May de 2021

1Constantino Cativa

Muitas vezes, tudo o que os jovens precisam para começar um negócio de sucesso ou ter um novo emprego é um pequeno empurrão. Foi a pensar nisto que surgiu a parceira em desenvolvimento Turquia-PNUD, que deu a oportunidade a 100 jovens da província da Huíla de fazerem estágios profissionais, após terminarem uma formação no Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (INEFOP), para aliarem os conhecimentos teóricos à experiência prática.

Cada um destes 100 jovens vem de contextos diferentes e exerciam alguma actividade económica, muitas vezes de modo informal, na tentativa de ganharem o dia e contribuírem para o rendimento familiar. Constantino Cativa, por exemplo, antes de se tornar um serralheiro certificado pelo INEFOP, era barbeiro. Para ele, isso não era suficiente.

“Eu queria fazer algo mais prático, então surgiu a necessidade de fazer um curso profissional no centro INEFOP”, conta, enquanto trabalha na oficina da Metalangola, do Grupo Unione, na Humpata. “Eu pensava que o curso [de serralharia] era limitado e quando cheguei aqui na empresa vim a ver que é mais amplo”, diz o jovem de 22 anos. “Aqui no estágio estamos a aprender a fazer janelas, portas e já temos a base para fazer fogões e também alguns desidratadores”, continuou.

“Esta experiência será uma boa base, porque farei de tudo para que possa sustentar-me e não passar por muitas necessidades”, disse Constantino. “Depois de terminar o estágio, o meu plano é ter o meu primeiro emprego”, o que pode significar aumentar o rendimento, “visto que o curso me obriga também a empreender”, afirma.

Vadilson Pedro, por outro lado, não tinha um emprego formal, tal como muitos outros. Em Angola, um em cada dois jovens entre os 15 e 24 anos está desempregado, segundo o Inquérito ao Emprego em Angola de 2020 do Instituto Nacional de Estatísticas. Para remediar, Vadilson fazia pequenos negócios, como vender perfumes, até fazer um curso em Mesa e Bar e o estágio na Pensão Diocema, no Lubango. Agora, quer juntar as duas experiências e começar a vender “doces e salgados”.

2Vadilson Pedro

O jovem de 22 anos diz que nunca poderia ter aprendido dentro da sala de aula da formação o que aprendeu ao servir no bar da pensão: “Aprendi a lidar com os colegas das diferentes secções, e diversos clientes difíceis, mostrando humildade, respeito e simpatia.”

“O teórico é apenas a matéria e o prático é a própria realidade”, completa Alberto Sapalo, como se tivesse ouvido o que dizia Vadilson. Alberto já trabalhava como serralheiro, mas “queria aprender mais e saber o que é ser um serralheiro de verdade”, então, aos 21 anos, fez um curso e o estágio de Serralharia. “No inefop encontrei as respostas certas”, afirma. Agora, Alberto já sabe fazer fogões, mesas, camas, janelas e gradeamentos e garante que vai usar estes conhecimentos para ter alguma estabilidade financeira.

Foi precisamente a necessidade de transmitir mais conhecimentos práticos aos formandos que deu origem a esta iniciativa de estágios profissionais, conforme explicou o Director dos Serviços Provinciais do INEFOP na província da Huíla, Alberto Bartolomeu. Um diagnóstico da situação do ensino técnico-profissional na província da Huíla, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, com apoio da Universidade Mandume-Ya-Ndemufayo e da Organização Internacional do Trabalho, realizado no ano passado, revelou que “os formandos quando saíam dos centros de formação profissional, tinham uma carga elevada de teórica e faltava-lhes a parte prática”, continuou o responsável

Lançou-se um projecto piloto, em que 50 alunos do INEFOP fizeram estágios profissionais, e os resultados foram muito positivos. “Dos 50 estagiários, felizmente 47 tiveram emprego imediato”, nas empresas onde tinham estagiado. Segundo Alberto Bartolomeu, os outros três não foram logo contratados “porque pertencem a uma denominação religiosa, a Igreja do Sétimo Dia” e não poderiam trabalhar aos sábados, mas logo surgiram outras oportunidades e estes três jovens já têm empregos.

3Alberto Bartolomeu

Face a estes resultados, a atitude certa só poderia ser prolongar o projecto e aperfeiçoar os atractivos, tanto para os jovens, como para as empresas. “Melhoramos em relação ao subsídio do formando”, demonstrou Alberto Bartolomeu. Os estagiários recebem agora um valor mensal, incluindo o subsídio de transporte e seguro.

“Também houve um reforço, embora mínimo, em consumíveis para cada empresa”, porque devido à COVID-19, muitas empresas não tinham condições financeiras para receber estagiários. “Então, houve esta distribuição de consumíveis, que foi uma grande almofada para que estas empresas pudessem acolher com eficácia a situação dos estagiários”, continuou Alberto Bartolomeu.

Nesta relação, todos saem a vencer, garante o Director dos Serviços Provinciais do INEFOP. As empresas “durante três meses, têm mão de obra barata, não pagam nada mas, em contrapartida, recebem o valor dos consumíveis e o produto que é produzido, vendem”, e “nós também ganhamos porque, depois da convivência dos três meses, e devido à aplicação [e dedicação] que estes estagiários têm, eles acabam por ficar nessas empresas”.

O projecto apenas foi possível graças ao apoio e financiamento da Embaixada da Turquia em Angola, e no âmbito do Memorando de Entendimento entre o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), que tutela o INEFOP, e o PNUD em Angola, para reforçar a colaboração no que toca a emprego e formação técnico-profissional.

Agora, “nós estamos a resolver dois problemas: formamos e empregamos”, concluiu Alberto Bartolomeu.

4Geltrudes Tchongolo, que fez o curso de mesa e bar e está a fazer um estágio na Matala, admite que o subsídio é um grande benefício. “Aprendemos muita coisa que a gente não sabia, nem imaginava e não só. Nos dão subsídio, o que nos ajuda também”, disse a jovem de 23 anos, antes de voltar a servir às mesas no restaurante Vanjul.

Irany Sawa, Directora dos Recursos Humanos da empresa Metalosul, no Lubango, concorda. Ela conta que experiência com os estagiários do INEFOP foi muito boa “não só por não ter gerado custos para a empresa”, mas também porque “o INEFOP indica as pessoas certas para as funções certas”. Ou seja, os jovens já tinham recebido formação e “vieram quase que prontos para exercer a função, o que alavancou o bom funcionamento do departamento” em pouco tempo.

5Irany Sawa

“Os candidatos que recebemos do INEFOP vêm com um perfil e um foco diferente, porque eles sabem que estão aí para correr atrás de uma oportunidade, que poderá ser real ou não”, explicou Irany. “Eles vêm com mais garra e nós gostamos disso”, continuou. A Metalosul já contratou quatro estagiários e, segundo a responsável dos recursos humanos, pretende manter a parceria com o INEFOP.

Ser contratado pela empresa onde estagiou é o objectivo de muitos destes jovens, mas só o certificado da formação no INEFOP e a experiência, já alimentam a esperança de entrar no mercado de trabalho, de uma forma ou de outra.

“Se a empresa [onde estou a fazer o estágio] estiver a precisar de um funcionário, podem me contratar e eu vou aceitar”, disse Geltrudes. “Se não estiver, vou procurar um trabalho. Já que estou formada, sou competente para trabalhar nesta área”, continuou, com uma voz mais confiante.

Entre os estagiários, há ainda os mais ambiciosos, que estão já a sonhar com os seus próprios negócios. Uma delas é Alexandra Braga, de 30 anos, que fez um curso de culinária e está a fazer um estágio na estância hoteleira Lodge Obama, na Chibia.

“Como tenho uma roulotte em casa, estou a pensar em, quando terminar o estágio, começar a praticar fazer cachorros [quentes] e hambúrgueres para mostrar às pessoas o que aprendi nesse estágio”, contou Alexandra.  Ela aprendeu a fazer estes lanches com as cozinheiras do restaurante e quer agora ensinar à sobrinha. “Tenho uma sobrinha que posso chamar para me ajudar” na roulotte, contou.

6Alexandra Braga

O Centro de Formação Profissional do Lubango esforça-se para dar uma instrução completa aos mais de 1000 alunos que recebe por ciclos, nos cursos que podem durar até 6 meses. No entanto, tal como mostra Mizete Manuel, a prática não se transmite.

A cozinheira, que antes era vendedora ambulante, diz que no estágio aprendeu a “trabalhar em equipa e a trabalhar sob pressão”. “É uma coisa muito boa e saímos daqui com muita experiência de trabalho”, disse Mizete, de 32 anos.

Experiência profissional é algo que Pedro Sapalo já tinha, só que não era na área em que gostaria. O jovem de 20 anos trabalhava como mototáxi, fazia uns biscates como fotógrafo e geria pequenos negócios, até acabar por fazer um estágio em pintura, na área de acabamentos, na empresa NAP Service.

7Pedro Sapalo

Pedro, na verdade, está a “seguir o negócio da família”, como se diz na gíria, pois o seu pai também é pintor. O jovem conta que aprendeu técnicas no estágio que poderá ensinar até aos seus mais velhos, como o modo certo de mistura de tinta e “retirar a tinta do balde ao rolo”.

A empresa NAP Service, na Chibia, acolheu 12 estagiários nas áreas de construção civil, electricidade, pintura, carpintaria e serralharia, segundo o Director, Ngola Paciência.

“Nós, como empresa, sentimo-nos lisonjeados porque estamos a dar o nosso contributo para a formação de quadros nacionais”, disse Ngola. “Uma das grandes dificuldades que o país atravessa é a falta de emprego, portanto, projectos desta natureza vêm de certa forma incentivar a criação do autoemprego e isto acaba por contribuir directamente na economia”, continuou.

Ngola apelou ainda para que outros empresários abram as portas a estagiários, principalmente porque Angola “está e estará em reconstrução por muito tempo”, logo, há espaço para todos.

Fátima Abel já quer reservar o espaço dela. A jovem de 27 anos sonha em abrir um restaurante e está a aproveitar cada lição do estágio na cozinha do restaurante Vanjul, na Matala. “Aqui eu aprendi desde como tratar os clientes, a como tratar as comidas”, explica Fátima. “Cheguei aqui um pouquinho crua e vejo que há uma melhoria”.

A paixão pela cozinha surgiu desde pequena, quando via a mãe a cozinhar, e ela quer trabalhar até conseguir ter o seu próprio negócio. “Pode não ser um restaurante de porte grande, mas alguma coisinha assim pequena”, diz.

8Fátima Abel