Espaço para experimentação

30 de April de 2020

 

Portfólio de Experimentos - Draft .© PNUD Angola

 

Ao entrarmos no nosso segundo ciclo de 100 dias, continuamos a explorar o ecossistema de gestão de resíduos. O que significa que está na hora de reagrupar as tropas e voltar à ação! Desta vez, já temos algo para começar: o que aprendemos até aqui. Até agora, o nosso trabalho permitiu-nos identificar as seguintes lacunas e "espaço de manobra" na cadeia de valor local de gestão de resíduos:

1     Destino final - descarte e transformação - Os aterros sanitários são a solução menos viável, e existem já evidências significativas de uma crescente economia de reciclagem (número de empresas a operar, número de transacções, número de beneficiários) que parecem indicar que deverá ser esta a direção a seguir. Embora a maioria das empresas de reciclagem sejam relativamente pequenas, não tenham uma escala industrial, e algumas possam não ter ainda legitimidade do ponto de vista legal, elas são um bom ponto de partida. Devem ser criados mais mecanismos para promover e estimular negócios de reciclagem com diferentes capacidades, desde facilitar o licenciamento e regulamentação das operações de reciclagem até promover investimentos do sector privado em empresas de pequena escala ou incentivar investimentos públicos / privados em instalações industriais de maior porte. A monitoria e fiscalização de organizações que exportam resíduos também é muito importante. Porém a exportação de resíduos é legal no país, e está a criar até certo ponto concorrência desleal para as empresas locais de reciclagem.

2)     Descarte / recolha / transporte - Actualmente, não existem ecopontos ou contentores de recolha selectiva. Os operadores públicos recolhem apenas os resíduos misturados e os catadores “informais” não oferecem credibilidade ou legitimidade suficiente. O crescimento da economia da reciclagem parece evidência suficiente para a implementação de um sistema diferenciado de resíduos numa perspectiva de administração pública, desde a introdução de pontos de recolha seletiva nos bairros até a um serviço eficaz de recolha / transporte. No entanto, o modelo deve ser bem estudado, projectado e testado antes da implementação, para evitar o método que já falhou no passado, de comprar contentores diferenciados e distribuí-los aleatoriamente, sem ter um sistema integrado a funcionar. Um modelo de recolha mais centralizado e integrado com pontos de recolha também permitiria a recolha de dados que actualmente não é efectuada. Embora os catadores desempenhem um papel fundamental nesta economia, as condições de trabalho são precárias e perigosas, o valor do trabalho não é justo e regulamentado, muitos são crianças e idosos, a maioria recolhe a pé sem meios de transporte e não há condições de armazenamento adequadas e seguras em alguns pontos “agregadores”. Este modelo “informal” existente não tem condições para ser uma solução eficaz para uma cidade de cerca de 8 milhões de pessoas. Portanto, devemos encontrar uma nova maneira de canalizar esta força de trabalho, enquadrando-a dentro de um sistema integrado de recolha / transporte / reciclagem.

3)     Geração - O aumento da quantidade de resíduos separados na fonte aumentaria a quantidade de resíduos não contaminados viáveis, elegíveis para serem reciclados. A separação na fonte só pode acontecer quando um serviço de recolha selectiva "confiável" estiver em vigor, com incentivos específicos. A educação ambiental e a consciencialização sobre a poluição são questões transversais. Os cidadãos e o sector privado devem ter acesso a mais informações, não apenas sobre sustentabilidade e poluição, mas também sobre o funcionamento do sistema de gestão de resíduos. As informações (sobre empresas de recolha, empresas de reciclagem, localização dos pontos de recolha, preços de venda, dados sobre os resíduos gerados) devem estar centralizadas e facilmente acessíveis para todos os actores. O sector privado, como principal gerador de resíduos recicláveis, deve ter um maior papel no apoio à implementação de estratégias e soluções.

Em muitas reuniões e entrevistas, ouvimos várias vezes que a recolha selectiva de resíduos não será possível em Angola porque não há destino para os materiais recolhidos, que a população não está instruída sobre como separar os resíduos e que também não há sistema de transporte. Através do mapeamento do ecossistema, descobrimos que algumas dessas suposições estão de certa forma correctas, enquanto outras já se provaram erradas. A recolha selectiva não é realizada em Angola por estes motivos, entre outros, mas não é impossível. Estes fatores podem ser alterados e é neste sentido que devemos trabalhar.

Neste momento, estamos perante um portfólio de experimentos cheio de pontos de interrogação e é necessário aplicar ferramentas específicas para analisar estrategicamente a viabilidade de cada experimento, de acordo com diferentes variáveis ​​como tempo, parceiros, relevância, etc ... o que felizmente nos conduz a um óptimo caminho: aquele em que testamos algumas das ferramentas desenvolvidas pelos nossos colegas da Rede dos Laboratórios de Aceleração. E é a isto que chamamos de inteligência colectiva!

Já conseguimos antever alguns obstáculos que poderemos ter de superar ao longo do caminho, como a desconfiança em relação à experimentação e conflitos de interesses entre parceiros. Do ponto de vista organizacional, estamos também a explorar os protocolos internos, devemos encontrar um equilíbrio entre testes de pequena escala e acções contínuas de longo prazo, mais alinhadas às expectativas tradicionais.

Há poucos dias, falámos sobre como seria útil testar a viabilidade da proibição ou da taxa sobre o plástico de uso singular nos supermercados antes de prosseguirmos directamente para a implementação de legislação. Também discutimos como a colocação de caixotes diferenciados em um mercado, por exemplo, poderia gerar ideias para implementar a recolha selectiva de resíduos em escala, como sistema. Podemos ainda falar sobre testar os pontos públicos de recolha de resíduos em bairros específicos, com base na economia existente ou depósitos centralizados com base no modelo existente de agregadores. Sem sombra de dúvidas que há muito espaço para a experimentação, devemos preparar-nos, encontrar os parceiros certos e avançar, avançar em busca do desenvolvimento.

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